Rui Queimado


Nostro Senhor! e ora que será
de mim? Que moiro, porque me parti
de mia senhor mui fremosa, que vi
polo meu mal! E de mi que será,
5Nostro Senhor? Ou ora que farei?
  Ca, de pram, nẽum conselho nom hei,
nem sei que faça, nem que xe será
  
de mim, que moiro e nom me sei já
nẽum conselh'outro senom morrer!
10E tam bom conselho nom poss'haver,
pois que nom cuido nunca veer já
esta senhor, que por meu mal amei,
des que a vi, e am'e amarei
mentr'eu viver; mais nom viverei já
  
 15mais des aqui, de pram, per nulha rem,
cuidando sempre no meu coraçom
no mui gram bem que lh'hoj'eu quer', e non'
a veer, nen'a cuidar já per rem
a veer. E com aqueste cuidar
20cuid'a morrer; ca nom poss'hoj'osmar
com'eu possa viver per nulha rem,
  
poila nom vej'; e cuid'em quanto bem
 lhe Vós fezestes em tod', ar cuid'al,
em com'a mim fezestes muito mal:
25pois já quisestes que lh'eu tam gram bem
 quisesse, nom mi fazer alongar
de a veer, e tam a meu pesar!
Nostro Senhor, u me faredes bem?
  
 A la fé, nenlhur, aquesto sei já!
30Ca, se a nom vir, nunc'haverei rem.



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Nota geral:

Em registo emotivo, o trovador dirige a Deus Filho o seu lamento por ter-se afastado da sua senhora, que pensa nunca mais tornar ver. No seu desespero, não sabe o que fazer nem o que será dele, e vê na morte a única saída. E censura ainda Deus pois, se a criou tão bela e fez com que ele a amasse tanto, não deveria ter feito com que ele fosse obrigado a afastar-se tão tristemente. Depois de tanto mal que lhe fez, quando lhe fará bem? Nunca, conclui na finda, pois, se a não vir, nada terá.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas (rima b singular)
Dobre: (vv. 1, 4, 7 de cada estrofe)
será (I), (II), rem (III), bem (IV)
Ateúda atá finda
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 135, B 256

Cancioneiro da Ajuda - A 135

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 256


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Cantar de amigo 

Versão de Tomás Borba