Pedro Amigo de Sevilha


 Um bispo diz aqui, por si,
que é de Conca; mais bem sei
de mi que bispo nom achei
de Conca, des que eu naci,
5que dalá fosse natural;
mais daqueste mi venha mal,
se nunca tam sem conca vi.
  
E nunca tal mentira
qual el diss'aqui ant'el-rei,
 10ca se meteu por qual direi:
por bispo de Conca log'i;
e dixi-lh'eu log'entom al:
- U est essa conca bispal,
de que vós falades assi?
  
15E polo bisp'haver sabor
grande de conca [e] nõn'[a] haver,
nom lho queremos nós caber;
ca diss[e] o vesitador:
- Que bispo! Per nẽum logar
20nom pode por de Conca andar
bispo, que de Conca nom for!
  
Vedes que bisp'e que senhor,
que vos cuida a fazer creer
que é de Conca; mais saber
25podedes que é chufador,
per mim, que o fui asseitar
per um telhad', e nom vi dar
 ant'el conca nem telhador.



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Nota geral:

Outra cantiga que utiliza um cerrado jogo verbal na sátira a um bispo enfatuado. Aqui é o termo conca que serve de mote, termo utilizado nos seus vários sentidos: o topónimo (Cuenca), o seu sentido comum (concha, escudela) e o seu sentido eclesiástico (barrete episcopal, símbolo de superioridade hierárquica); há ainda a expressão sem conca, que significará desconchavado, tonto. Com tudo isto, subsistem algumas obscuridades na cantiga, que provavelmente faria alusão a um contexto concreto que desconhecemos, mas que possivelmente se prenderia com conflitos entre o bispo e o monarca (sobre a questão, e também sobre a identidade deste bispo, damos, em nota, algumas sugestões).
Note-se que as formas que grafamos com maiúscula (o topónimo) podem igualmente entender-se como nomes comuns.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1659, V 1193

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1659

Cancioneiro da Vaticana - V 1193


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas