Pero da Ponte


Quem a sa filha quiser dar
  mester, com que sábia guarir,
a Maria Doming'há-de ir,
que a saberá bem mostrar;
5e direi-vos que lhi fará:
ante d'um mês lh'amostrará
como sábia mui bem ambrar.
  
Ca me lhi vej'eu ensinar
ũa sa filha e nodrir;
 10e quem sas manhas bem cousir
aquesto pode bem jurar:
  que des Paris atẽes acá
molher de seus dias nom há
que tam bem s'acorde d'ambrar.
  
15E quem d'haver houver sabor
nom ponha sa filh'a tecer,
nem a cordas nem a coser,
mentr'esta mestra aqui for,
que lhi mostrará tal mester,
20por que seja rica molher,
ergo se lhi minguar lavor.
  
E será en mais sabedor,
por estas artes aprender;
demais, quanto quiser saber,
25sabê-lo pode mui melhor;
e pois tod'esto bem souber,
guarrá assi como poder;
de mais, guarrá per seu lavor.



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Nota geral:

Sátira contra uma mulher que, em vez de ensinar à filha um ofício honesto, lhe ensina as artes de sedução, com vista a um futuro menos trabalhoso e mais lucrativo. A cantiga é um interessante documento sobre a educação feminina medieval, que nos aparece em negativo no retrato desta "mestra de meninas".



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: (v.7 de cada estrofe)
ambrar (I, II), lavor (III, IV)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1651, V 1185

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1651

Cancioneiro da Vaticana - V 1185


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas