Pero da Ponte


Marinha Foça quis saber
como lh'ia de parecer;
e fui-lh'eu log'assi dizer,
tanto que m'ela preguntou:
5- Senhor, nom houver'a nacer
       quem vos viu e vos desejou!
  
E bem vos podedes gabar
que vos nom sab'hoj'home par,
enas terras, de semelhar;
10de mais diss'um, que vos catou,
que nom s'houver'a levantar
       quem vos viu e vos desejou!
  
E pois parecedes assi,
tam negra ora vos eu vi,
 15que o meu cor sempre des i
nas vossas feituras cuidou;
e mal dia naceu por si
       quem vos viu e vos desejou!
  
Mais que fará o pecador
20que viu vós e vossa coor
e vos nom houv'a seu sabor?
Dizer-vo-lo-ei já, pois me vou:
irad'houve Nostro Senhor
       quem vos viu e vos desejou!



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Nota geral:

Retrato da soldadeira Marinha Foça, preocupada com a sua beleza. De facto, segundo Pero da Ponte, não haveria outra que se lhe comparasse - de tão feia que era. Note-se que a cantiga, jogando ironicamente com as normas da cantiga de amor (incluindo o tratamento por senhor), é equívoca, ou seja, poderá ter uma primeira leitura "inocente". Acrescente-se que não é impossível que fosse uma cantiga de seguir (ou seja, que utilizasse o refrão ou a música de uma outra cantiga).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1627, V 1161

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1627

Cancioneiro da Vaticana - V 1161


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas