Pedro Amigo de Sevilha


Moitos s'enfingem que ham gaanhado
doas das donas a que amor ham,
e tragem cintas que lhis elas dam;
mais a mim vai moi peor, mal pecado,
5com Sancha Díaz, que sempre quix bem:
 ca jur'a Deus que nunca mi deu rem
 senom um peid', o qual foi sem seu grado.
  
Ca, se per seu grado foss', al seria;
mais daquesto nunca m'enfingirei,
10ca hoje verdadeiramente o sei
que per seu grado nunca mi o daria;
mais, u estava coidando em al,
deu-mi um gram peid'e foi-lhi depois mal,
u s'acordou que mi o dado havia.
  
15Coidando eu que melhor se nembrasse
ela de mim, por quanto a servi,
por aquesto nunca lhi rem pedi
 des i, em tal que se mim nom queixasse;
e falando-lh'eu em outra razom,
20deu-mi um gram peid', e deu-mi-o em tal som,
como quem s'ende moi mal log'achasse.
  
E, pois ela de tam rafece dom
se [re]peendeu, bem tenho eu que nom
mi dess'outro, de que m'eu mais pagasse.



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Nota geral:

Paródia, de raiz escatológica, ao universo do amor cortês, concretamente às doas, ou seja, aos presentes que os namorados trocavam entre si. Esta Sancha Dias, que sempre se tinha recusado a dar o que quer que fosse a Pedro Amigo, descuidou-se e, involuntariamente, deu-lhe um presente "mal cheiroso".



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1593, V 1125
(C 1593)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1593

Cancioneiro da Vaticana - V 1125


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas