Pero Gomes Barroso


Um ric'home que hoj'eu sei,
que na guerra nom foi aqui,
vem mui sanhudo e diz assi
como vos agora direi:
5       diz que tem terra qual pediu,
       mais, porque a nunca serviu,
há mui gram querela d'el-rei.
  
El veo, se Deus mi perdom,
des que viu que era paz
10- [e] bem lhe venha, se bem faz!
Pero mostra el tal razom:
       diz que tem terra qual pediu,
       mais, porque a nunca serviu,
contra el-rei anda mui felom.
  
15Pero na guerra nom fez bem
nem mal, que nom quis i viir,
com coita d'el-rei nom servir,
pero mostra el ũa rem:
       diz que tem terra qual pediu,
20       mais, porque a nunca serviu,
a 'l-rei quer mui gram mal por en.
  
Sanhudo vem contr'el-rei já,
ca, u foi mester, nom chegou;
e mais de mil vezes jurou
25que da terra nom sairá:
       diz que tem terra qual pediu,
       mais, porque a nunca serviu,
al rei por en gram mal querrá.



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Nota geral:

Na sequência da cantiga anterior, novo escárnio ainda tendo como cenário as campanhas de defesa da Andaluzia. Este rico-homem, que tinha brilhado pela ausência durante os tempos de guerra, apresenta-se, em tempo de paz, furioso contra el-rei, apesar das benesses com que tinha sido contemplado. Pelo que se depreende da última estrofe, é provável que o rei ameaçasse retirar-lhe a terra. O refrão é de uma fina ironia, ao colocar na boca do cavaleiro as razões que demonstram o absurdo das suas queixas.
Para o contexto político concreto da composição, veja-se a Nota Geral à cantiga anterior. A cantiga seguinte continua ainda esta temática.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1443, V 1054

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1443

Cancioneiro da Vaticana - V 1054


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas