Gonçalo Anes do Vinhal


 Pero Fernándiz, home de barnage,
que me nom quer de noite guardar o mu,
se acá del travarem por peage,
como nom trage dinheiro nẽum,
5nom lhi vaam [e]na capa travar
 nen'o assanhem; ca, se s'assanhar,
pagar-lhis-á el peage de cu.
  
Desses mi ham i d'andar em mia companha,
ca nunca home tam sanhudo vi.
10Eu já que um home d'Espanha,
sobre peagem, matarom aqui;
e com'é home de gram coraçom,
se lhi peagem pedir o Gastom,
peage de cuu pagará i.
  
15Ca el vem quebrando com grand'ardura
com este mandado que oíu já,
e ferve-lh'o sangu'e fará loucura,
 que nulha rem i nom esguardará:
se lhi peagem forem demandar
20os porteiros do Gastom de Bear,
bevam a peagem que lhis el dará.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Sátira que Gonçalo Eanes do Vinhal dirige a um dos seus homens de armas, cavaleiro com pretensões a fidalgo, cuja fanfarronice e pretensa virilidade o leva a jurar que recusará pagar qualquer portagem nas terras do poderoso conde Gastão do Béarn. A cantiga insinua que os insultos, de cariz homossexual, que este Pero Fernandes dirige aos cobradores da dita portagem, deverão ser tomados à letra, a pretensa virilidade não passando, pois, de um disfarce.
Acrescente-se que, como outras composições deste tipo, é possível esta aparente sátira pessoal tivesse, na verdade, um sentido político muito concreto (como sugerimos em nota).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1000

Cancioneiro da Vaticana - V 1000


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas