Martim Soares


O que conselh'a mim de m'eu quitar
de mia senhor, porque me nom faz bem,
e me por tam poderos'ora tem
de m'en partir, nunca el houv'amor
5qual hoj'eu hei, nem viu esta senhor
com que Amor fez a mim començar.
  
Mais non'a viu e vai-mi agora dar
tal conselho, em que perde seu sem;
ca, se a vir ou lha mostrar alguém,
10bem me faç'eu d'atanto sabedor:
que me terrá mia morte por melhor
ca me partir do seu bem desejar.
  
Ca, se el vir o seu bom semelhar,
desta dona por que mi a mi mal vem,
15nom m'ar terrá que m'eu possa per rem
dela partir, enquant'eu vivo for,
nem que m'end'eu tenha por devedor,
nem outr'home que tal senhor amar.
  
E pois la vir, se poder-s'i guardar
 20de lh'aviir com'end'a mim avém,
bem terrei eu que escapará en;
  
mais d'ũa rem hei ora gram pavor:
des que a vir, este conselhador
de nom poder mim nem si conselhar.



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Nota geral:

O trovador começa por afirmar que quem o aconselha a desistir da sua senhora porque ela não lhe concede os seus favores, não só nunca amou como ele ama, como nunca a conheceu. Porque, se a vir, irá achar que lhe valerá mais morrer do que desistir de a desejar. Vendo a sua beleza, compreenderá como lhe é impossível afastar-se, ele ou qualquer outro que a amasse.
Nas duas findas, o trovador confessa o seu receio em relação a esse conselheiro: se ele vir a sua senhora, possivelmente nem a ele nem a si mesmo saberá depois dar conselhos (ou seja, ficará igualmente subjugado).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda (2)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 49, B 161

Cancioneiro da Ajuda - A 49

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 161


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas