Rui Martins do Casal


– Dized', amigo, se prazer vejades,
vossa morte se a desejades,
pois nom podedes falar comigo.
– Desejo, senhor, ben'o creades.
5– Desejades? Tam bom dia migo,
pois que os meus desejos desejades.
  
Dized', amigo, se vos prazeria
com a vossa morte todavia,
pois vivedes de mim alongado.
10– Praz, ai senhor, par Santa Maria.
– Prazeria? Deus haja bom grado,
pois que vos do meu prazer prazeria.
  
Dizede, amigo, se gradoedes,
a vossa morte se a queredes,
15pois que vivedes de mim tam longe.
– Quero, mia senhor, nom duvidedes.
– Queredes? Pois tam bom dia hoje,
pois [que] o que eu quero vós queredes.



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Nota geral:

A donzela pergunta ao seu amigo se, por estar longe e não poder falar com ela, deseja a morte. A sua resposta, sempre afirmativa, leva-a a exprimir a sua alegria, pois, vê que ele deseja o que ela própria também deseja.
O diálogo, muito vivo, não deixa de comportar um certo grau de (divertida) ironia, não só com a pueril alegria da donzela ao ver o poder que tem (e que a leva a alegrar-se com a eventual morte do amigo), mas também com a figura de absoluta submissão aos seus desejos que o trovador desenha para a voz masculina.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria, dialogada
Cobras singulares
Dobre: imperf. (vv. 2, 6 de cada estrofe, em II vv. 1, 6)
desejades, prazeria, queredes
Mozdobre (vv. 4, 5 e 6 de cada estrofe):
desejo/ desejades, desejos/ desejades (I), praz/ prazeria, prazer/ prazeria (II), quero/ queredes, q
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Fontes manuscritas

B 1161, V 764

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1161

Cancioneiro da Vaticana - V 764


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas