João Zorro


Quem visse andar fremosĩa
com'eu vi, d'amor coitada
e tam muito namorada
que chorando assi dizia:
5       "Ai amor, leixedes-m'hoje de lo ramo folgar,
        e depois treides-vos migo meu amigo demandar".
  
Quem visse andar a fremosa
com'eu vi, d'amor chorando
e dizendo e rogando
10por amor da Gloriosa;
       "Ai amor, leixedes-m'hoje de sô lo ramo folgar,
       e depois treides-vos migo meu amigo demandar".
  
Quem lhi visse andar fazendo
queixumes d'amor d'amigo,
15que havia sempre sigo,
e chorando assi dizendo:
       "Ai amor, leixedes-m'hoje de sô lo ramo folgar,
       e depois treides-vos migo meu amigo demandar".
  



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Nota geral:

Cantiga de amigo onde a voz feminina (da formosinha) só se ouve no refrão, o corpo das estrofes incidindo da descrição repetida da jovem enamorada, atormentada de amores e chorando. O que ela diz no refrão é, no entanto, muito significativo: dirigindo-se ao amor, ela pede-lhe uma espécie de tréguas temporárias (deixai-me hoje folgar sob os ramos), dispondo-se a ir com ele, em seguida, procurar o seu amigo.
Como em todas as restantes cantigas de João Zorro que nos chegaram, esta é uma composição onde, com notável mestria, se conjugam as formas mais simples e popularizantes da cantiga de amigo com a subtileza de traços e evocações, mais sugeridas do que explícitas.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1148bis, V 751
(C 1148)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1148bis

Cancioneiro da Vaticana - V 751


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

João Zorro 

Versão de Tomás Borba