João Airas de Santiago


Mia madre, pois [a]tal é vosso sem
que eu que[i]ra mal a quem mi quer bem
e me vós roguedes muito por en,
dized'ora, por Deus que pod'e val,
5pois eu mal quiser a quem mi quer bem,
       se querrei bem a quem mi quiser mal.
  
Dizedes-mi que, se eu mal quiser
a meu amigo, que mi gram bem quer,
que faredes sempre quant'eu disser,
10mais venh'or'a que mi digades al:
pois hei de querer mal a quem mi bem quer
       se querrei bem a quem mi quiser mal.
  
 Muito mi será grave de sofrer
d'haver quem mi quer bem mal a querer,
15e vós, madre, mandades-mi-o fazer,
mais faço-vos ũa pregunt'atal:
pois quem mi quer bem hei mal a querer,
       se querrei bem a quem mi quiser mal.
  
Se assi for, por mi podem dizer
20que eu fui a que semeou o sal.



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Nota geral:

Já que a vontade da sua mãe (que inclui a promessa de fazer depois tudo o que ela quiser) é que ela não goste de quem gosta dela, a donzela pergunta-lhe se deve então gostar de quem não lhe quer bem.. Na finda, a donzela conclui com um dito proverbial: a ser assim , ela será "a que semeou o sal" (semear sal era uma imagem tradicional para um ato fora do senso comum).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Mozdobre (vv. 2 de cada estrofe):
quem mi quer bem (I, III), mi (gram) bem quer (II)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1030, V 620

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1030

Cancioneiro da Vaticana - V 620


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas