Nuno Anes Cerzeo


Tôdalas gentes mi a mi estranhas som
e as terras, senhor, per u eu ando
sem vós; e nunca d'al i vou pensando
senom no vosso fremoso parecer;
5e cuid'em vós, como vos soio veer.
Atant'hei de bem eno meu coraçom!
  
Em nẽũa hora nom poss'eu achar
 sabor sem vós, senom u vou cuidando
em vós; pero vai-me muit'estorvando
10os que mi vam falando, senhor, em al;
e eles nom sabem se me fazem mal
em me fazerem perder tam bom cuidar.
  
Estranho and'eu dos que me querem bem
e dos que vivem migo, todavia;
15bem como se os viss'eu aquel dia
primeiramente, punho de lhis fogir;
e moir'eu, senhor, por me deles partir
 por em vós cuidar, ca nom por outra rem.
  
Vós me fazedes estranhar, mia senhor,
20todo de quanto m'eu pagar soía;
ca, pois eu cuid'em qual bem haveria
se eu houvess'o voss'amor, e ar sei
log'i que nunca este bem haverei,
de tod'al do mund'hei perdudo sabor.



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Nota geral:

O trovador dá conta à sua senhora do estado de alheamento em que vive: longe dela, todas as pessoas e todas as terras lhe são estranhas, o seu único prazer sendo o de pensar continuamente nela, e na bela imagem que dela guardou. Um gosto infelizmente perturbado pelos que lhe vêm falar de coisas diversas, sem se aperceberem do mal que lhe causam. E assim, mesmo em relação a amigos e companheiros próximos, a sua atitude é a de fugir-lhes e isolar-se para poder pensar nela. E pensando na felicidade que seria ter o seu amor, tudo o resto lhe parece insípido.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares (rima b dobla)
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Fontes manuscritas

B 130

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 130


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas