Rui Dias de los Cameros
Trovador medieval

Não são conhecidas cantigas deste autor.


Nacionalidade: Castelhana

Notas biográficas:

Trovador castelhano, ativo no período inicial da poesia trovadoresca. Embora conste no índice de Colocci como autor de três cantigas inseridas na zona das cantigas de amor, nenhuma delas chegou até nós, em virtude da lacuna que afeta os folios iniciais do Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
Filho de D. Diogo Ximenez e da galega D. Guiomar Rodrigues de Trava, Rui Dias pertencia a uma linhagem de origem navarra, mas que passara à órbita política castelhana, e cujo senhorio, situado a sul de Navarra e na zona fronteiriça entre os reinos de Leão e Castela, era um dos mais importantes e extensos da época. Entre 1186 e 1230, ano provável da sua morte, Rui Dias está documentado nas cortes castelhanas de Afonso VIII e do seu sucessor, Fernando III, confirmando numerosos documentos, muito embora essa presença pareça desaparecer em períodos específicos (de 1188 a 1200, de 1220 a 1224), que corresponderão a momentos de desinteligências com os monarcas. A zona estratégica onde se situavam os vastos domínios do senhor dos Cameros permitia, de facto, jogar com diversas alianças, e é possível, como crê José Carlos Miranda1, que os períodos em que Rui Dias desaparece da documentação castelhana fossem os períodos em que a sua vassalagem se terá transferido para o rei de Navarra. Casou, aliás, com D. Aldonça Dias de Haro, filha do poderoso senhor navarro, D. Diogo Lopes, o Bom. Mas as suas ligações à Galiza, através da sua poderosa linhagem materna, parece terem sido igualmente efetivas, estando nomeadamente documentado como tenente de Sarriá e Monte Negro. Acrescente-se que, segundo um documento da época, ainda não devidamente contextualizado, o pai de Rui Dias teria morrido em Portugal, em circunstâncias militares (por volta de 1187). Quanto ao trovador, e embora não esteja documentada a sua presença em território português, não deixa de ser significativa a elevada soma que deixa em testamento ao mosteiro de Alcobaça.
Além de poeta, Rui Dias parece ter sido um dos protetores do movimento trovadoresco, sendo mencionado como tal por dois trovadores provençais, Elias Cairel (ativo de 1204 a 1222) e Aimar lo Negre (1212-1219); também a Vida de Guilhem Magret adianta que este trovador se teria retirado para as terras de Rui Dias, aí acabando os seus dias. A este propósito defende José Carlos Miranda que o senhor dos Cameros teria desempenhado um papel central na fase inicial de arranque da poesia trovadoresca ibérica, agregando em torno de si, e no seu senhorio castelhano-leonês, um núcleo de trovadores e jograis, de que poderiam ter feito parte alguns dos mais antigos autores presentes nos apógrafos italianos, como seria o caso de João Soares de Paiva, Pero Rodrigues de Palmeira, ou João Velaz. José António Souto Cabo2, no entanto, discorda desta sugestão, propondo antes que seriam os seus vínculos galegos (aos Trava, a linhagem da sua mãe) e a sua presença efetiva na região que explicariam a atividade e o mecenato trovadoresco de Rui Dias. A juntar a este contexto galego, este investigador chama ainda a atenção para o contexto navarro, não só através da relação familiar de afinidade entre o senhor dos Cameros e Gonçalo Ruiz de Azagra, alferes de Fernando II de Leão entre 1180 e 1182, poeta em occitânico e tio-avô materno de sua mulher, D. Aldonça de Haro, como também para a provável influência de seu sogro, D. Diogo de Haro, que "ficou conhecido como o nobre hispânico que teve um contacto mais direto e intenso com os trobadors, recebidos generosamente na sua corte para cantar as glórias do senhor de Haro".


Referências

1 Miranda, José Carlos (2004), Aurs mezclatz ab argen. Sobre a primeira geração de trovadores galego-portugueses, Porto, Edições Guarecer.

2 Souto Cabo, José António (2012), Os cavaleiros que fizeram as cantigas. Aproximação às origens socioculturais da lírica galego-portuguesa, Niterói, Editora UFF, pp. 167-175.
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