João Airas de Santiago


Meu senhor rei de Castela,
venho-me vos querelar:
eu amei ũa donzela,
por que m'ouvistes trobar;
5e com quem se foi casar,
por quant'eu dela bem dixi,
quer-m'ora por en matar.
  
Fiador pera dereito
lhi quix perante vós dar;
10el houve de mim despeito
e mandou-me desafiar;
nom lh'eu sei alá morar,
venh'a vós que m'emparedes
ca nom hei quem m'emparar.
  
15Senhor, por Santa Maria,
mandad'ante vós chamar
ela e mim algum dia,
mandade-nos razõar:
se s'ela de mim queixar
20de nulha rem que dissesse,
em sa prisom quer'entrar.
  
Se mi justiça nom val
ante rei tam justiceiro,
ir-m'-ei ao de Portugal.



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Nota geral:

Cantiga dirigida ao rei, certamente Afonso X, o que, neste caso, é um mero artifício retórico para uma divertida descrição dos bastidores do amor cortês: tendo-se casado a donzela que João Aires tinha cantado, o marido quer agora tomar desforra, perseguindo e ameaçando de morte o trovador. A solução será o rei arranjar um encontro entre ele e a dona: se ela então se queixar, João Airas está disposto a entrar voluntariamente na sua "prisão". Repare-se que uma das cantigas de Afonso X poderá ser uma resposta a esta.
Note-se a palavra perduda no penúltimo verso de cada estrofe.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares (rima b uníssona)
Palavra perduda: v. 6 de cada estrofe
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 966, V 553

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 966

Cancioneiro da Vaticana - V 553


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas