João Soares Somesso


Ora nom poss'eu já creer
que homem per coita d'amor
morreu nunca, pois na maior
viv'eu, que pod'Amor fazer
5haver a nulh'homem, per rem;
e pois eu vivo, nom sei quem
podesse nunca del morrer!
  
E gram medo soía haver
de morrer eu por mia senhor;
10mais, Deu'lo sab', este pavor
todo m'ela fez[o] perder;
 ca por ela conhosc'eu bem
que, se Amor matass'alguém,
nom leixaria mim viver.
  
15Pero faz-m'el tanto de mal
quanto lh'eu nunca poderei
contar, enquanto viverei,
pero me nunca punh'em al
senom na mia coita dizer.
20E quem quer poderá entender
que gram coita per est atal.
  
E mia senhor nom sabe qual
x'é esta coita que eu levei
por ela, des que a amei;
 25ca nom est antre nós igual
est': Amor nom lhi faz saber
com'el é grave de sofrer.
E por aquesto me nom val!



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Nota geral:

O trovador já não acredita que alguém possa morrer com mágoas de amor, pois ele próprio, sofrendo a maior dor possível, continua vivo. E se antes até receava muito morrer pela sua senhora, foi exatamente ela quem lhe fez perder tal medo - porque percebeu que, se o Amor matasse alguém, já ele não estaria vivo. Na verdade, o seu sofrimento é tal que jamais o poderia contar na totalidade, mesmo que se dispusesse a passar toda a vida falando disso. Mas a sua senhora desconhece-o, porque o Amor os trata de forma desigual: a ela não lhe dá a conhecer quão duro é amar e é por isso que a ele não lhe vale.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 124

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 124


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas