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Martim Moxa


 Maestr'Acenço, dereito faria      ←
el-rei de vos dar mui boa soldada,      ←
porque fezestes ũa cavalgada      ←
sem seu mandad', a Roda, noutro dia:      ←
5sem sa ajuda e sem seu dinheiro,      ←
fostes alá matar um cavaleiro,      ←
porque soubestes que o desservia.      ←
  
E se el-rei fosse bem conselhado,      ←
maestr'Acenço, daquestes dinheiros      ←
10que lh'o Demo leva nos cavaleiros,      ←
 parti-los-ia vosco, per meu grado;      ←
ca nom foi tal que a Roda entrasse      ←
que cavaleiro da vila matasse      ←
senom vós, que íades desarmado.      ←
  
15E do serviço que lh'havedes feito,      ←
maestr'Acenço, nom vos enfadedes:      ←
tornad'alá [e] bem barataredes,      ←
e matad'outro, quando virdes jeito;      ←
ca, se el-rei sabe vossa demanda      ←
20e houver paz deste execo em que anda,      ←
arcediagom sodes logo feito.      ←
  
E diss'el-rei noutro dia, estando      ←
 u lhe falarom em vossa fazenda,      ←
 que vos quer dar Ardon em encomenda,      ←
25porque dizem que sodes de seu bando;      ←
mais, se i jouver algum homem fraco,      ←
dos vossos póos levad'um gram saco,      ←
e ir-se-lh'-á o castelo livrando.      ←



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Nota geral:

Martim Moxa vira-se contra Mestre Acenço, um físico do rei, compondo um irónico elogio à sua coragem: sozinho, teria conseguido entrar numa povoação inimiga, onde teria matado um cavaleiro - com os seus pós. É provável que a cantiga se insira num contexto político específico, que poderá ser, como sugere Rodrigues Lapa1, a rebelião dos ricos-homens de Leão e Castela entre os anos 1272 e 1274 (como a referência, nos vs. 9-10, aos dinheiros que o rei gasta nos cavaleiros parece indicar). Mas note-se, no entanto, que, no contexto da delimitação real dos termos das cidades, nem sempre pacífica, há notícia de Ardón ter tentado, sem êxito, tornar-se independente da cidade de Léon (O´Callaghan2), e é possível que a cantiga aluda igualmente a este facto. De qualquer forma, e para lá destas alusões, são essencialmente as habilidades médicas de Mestre Acenço que Martim Moxa satiriza aqui.

Referências

1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia.

2 O´Callaghan, Joseph F. (1996), El Rey Sabio. El reynado de Alfonso X de Castilla, Sevilla, Universidad de Sevilla, 2ª ed. 1999, p. 115.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 916, V 503

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 916

Cancioneiro da Vaticana - V 503


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas