João Soares Somesso


Ũa donzela quig'eu mui gram bem,
meus amigos, assi Deus me perdom,
e ora já este meu coraçom
anda perdudo e fora de sem
5por ũa dona, se me valha Deus,
que depois virom estes olhos meus
que mi a semelha mui mais doutra rem.
  
Porque a donzela nunca verei,
meus amigos, enquanto eu já viver;
10por esso quer'eu mui gram bem querer
a esta dona em que vos falei
que me semelha a donzela que vi.
E a dona servirei des aqui
pola donzela que eu muito amei.
  
15Porque da dona som eu sabedor,
meus amigos, assi veja prazer,
que a donzela em seu parecer
 semelha muit', e por end'hei sabor
de a servir, pero que é meu mal.
20Servi-la-ei e nom servirei al,
por a donzela, que foi mia senhor.



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Nota geral:

Subtil cantiga, que entendemos como de escárnio, dirigida a uma donzela que teria deixado de o ser. Toda a composição joga com a oposição donzela/dona e uma leitura atenta faz perceber que elas são, na realidade, uma mesma pessoa.
José Carlos Miranda, que dedicou um artigo específico a esta cantiga1, faz dela, no entanto, uma leitura bastante diferente (e que poderá ser consultada no link disponibilizado em nota). De qualquer forma, o facto de esta composição não aparecer no Cancioneiro da Ajuda (que inicia a obra do trovador apenas com a cantiga que B transcreve a seguir) parece confirmar a nossa interpretação de que não estamos perante uma cantiga de amor.

Referências

1 Miranda, José Carlos (2011), "Somesso, a Dona e a Donzela - A Segunda Geração de Trovadores Galego-portugueses e a Linguagem do Amor", in Guarecer on-line .
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Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 106

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 106


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas