Afonso X


Quero-vos ora mui bem conselhar,
 meestre Joam, segundo meu sem:
 que, macar preit'hajades com alguém,
nom queirades com el em voz entrar,
5mais dad'a outrem que tenha por vós,
ca vossa honra é [de] todos nós,
  a quantos nós havemos per amar.
  
E pero se a quiserdes tẽer,
nõn'a tenhades per rem ant'el-rei;
10e direi-vos ora porque o hei:
porque nunca vo-lo vejo fazer
que vo-lo nom veja teer assi
 que, pero vos el-rei queira des i
bem juïgar, nom há end'o poder.
  
15E ainda vos conselharei al,
porque vos amo [mui] de coraçom:
que nunca voz em dia d'Acençom
tenhades, nem em dia de Natal,
nem doutras festas de Nostro Senhor,
20nem de seus santos, ca hei gram pavor
de vos viir mui toste deles mal.
  
 Nem na eigreja nom vos conselh'eu
de teer voz, ca vos nom há mester;
ca, se peleja sobr'ela houver,
25o arcebispo, voss'amig'e meu,
a quen'o feito do sagrado jaz,
e a quem pesa do mal, se s'i faz,
querrá que seja quanto havedes seu.
  
E pol'amor de Deus, estad'em paz
30e leixade maa voz, ca rapaz
sol nõn'a dev'a teer, nem judeu.



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Nota geral:

Esta cantiga, e a seguinte, visam jocosamente um tal Mestre João, certamente um músico, já que ambas brincam com sua voz. Aqui, concretamente, o rei parte de um equívoco com a expressão judicial "entrar em voz", cujo sentido era demandar alguém em justiça.
A cantiga datará do tempo em que Afonso X era ainda Infante, como se depreende pela referência ao rei, feita na segunda estrofe.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
Finda
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Fontes manuscritas

B 489, V 72

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 489

Cancioneiro da Vaticana - V 72


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas