Paio Gomes Charinho


Pois mia ventura tal é, pecador!,
que eu hei por molher mort'a prender,
muito per devo a Deus a gradecer
e a servir, enquant'eu vivo for;
5porque moiro, u mentira nom há,
por tal molher, que quen'a vir dirá
que moir'eu bem morrer por tal senhor.
  
Ca, pois eu hei tam gram coita d'amor
de que já muito nom posso viver,
10muit'é bem saberem, pois eu morrer,
que moiro com dereit' - e gram sabor
hei eu desto; mais mal baratará,
pois eu morrer, quem mia senhor verá,
ca morrerá como eu moir'ou peor.
  
15Ca nom há no mundo tam sofredor
que a veja que se possa sofrer
que lhe nom haja gram bem de querer.
E por esto baratará melhor:
non'a veer; ca rem nom lhe valrá
20e per força bem assi morrerá
com'eu moiro, de bem desejador.
  
Mais eu, que me faço conselhador
doutros, devera pera mim prender
tal conselho! Mais forom-mi-o tolher
25meus pecados, porque vi a melhor
molher que nunca naceu nem será.
E moiro por ela! Pero que há?
Moiro mui bem, se end'é sabedor
  
ela, pero sei que lhe plazerá
30de mia morte – ca nom quis, nem querrá,
nem quer que eu seja seu servidor.



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Nota geral:

Se o trovador se sente morrer pela sua senhora, considera que essa é uma morte honrosa e justa, por ser por quem é. Mas acrescenta que agirá mal quem, depois da sua morte, a for ver, pois terá um destino igual ou pior do que o seu. Na última estrofe e na finda, a cantiga dá-nos conta do debate interior do trovador: mas por que razão, pergunta, dá aos outros um conselho que deveria tomar para si próprio? Porque perdeu a razão ao vê-la, e agora morre. E então? continua a perguntar. Até morre muito bem, responde, pois com isso dará prazer à sua senhora - que nunca quis, quer ou quererá aceitá-lo como servidor.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 253

Cancioneiro da Ajuda - A 253


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas