Fernão Rodrigues de Calheiros


Já m'eu quisera leixar de trobar
se me leixass'a que mi o faz fazer;
 mais nom me quer leixar, ergo morrer,
como leixar-m'em seu poder d'Amor
5– atam falso nem atam traedor
que nunca punha erg'em destroir
o que é seu, e que nom há u lh'ir.
  
Eu, que nom hei u lh'ir que a tornar
nom haja a el e ao seu poder,
10nunca del pudi nẽum bem haver,
ca nom quis Deus, nem el, nem mia senhor!
Ante me faz cada dia peor,
 e nom atendo de m'en bem viir;
com tod'esto nom lhi posso fugir.
  
15[E] quem Deus quisesse poder dar
de lhi fugir muit'estaria bem,
ca de mil coitas em que homem tem,
se guardaria daquel desleal
ond'homem nom pode haver ergo mal.
20E d'Amor nunca [s']home loar vi,
e vej'eu muitos queixar come mi.
  
Por quantos eu vejo d'Amor queixar,
se ar visse que se loassem [en],
bem mi o podia desdizer alguém
25do que del digo; mais nom há i tal
a que[m] eu veja d'Amor dizer al
senom quant'eu dig', e que padeci
- sem bem d'Amor, que nunca eu prendi.



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Nota geral:

Embora gostasse, o trovador não consegue deixar de trovar, porque a sua senhora o entrega ao poder do Amor. E é contra o Amor (personificado) que ele compõe esta cantiga. Porque o Amor é um senhor falso e desleal, que só pensa em destruir os seus, sem lhes dar qualquer possibilidade de fuga. E todos se queixam disto mesmo. Na verdade, se o trovador encontrasse alguém a louvar o Amor, até estaria disposto a rever a sua opinião. Só que nunca encontrou ninguém nessas circunstâncias, todos os que encontra sofrem às suas mãos, tanto como ele.
A cantiga, pelo vocabulário e temática, parece estar em relação com uma anterior cantiga do trovador



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas (rima a uníssona)
Palavra perduda: v. 1 de cada estrofe
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 68

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 68


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas