Anónimo 2 ou João Peres de Aboim


Dizem-mi as gentes por que nom trobei
  há gram sazom, e maravilham-s'en;
 mais nom sabem de mia fazenda rem;
ca se bem soubessem o que eu sei,
5maravilhar-s'-iam logo per mi,
de como viv'e de como vivi
e, se mais viver, como viverei!
  
Mais non'o sabem, nem lhe-lo direi,
enquant'eu viva já, per nẽum sem;
10mais calar-m'-ei com quanto mal me vem
e sempr'assi mia coita sofrerei;
ca eu nom quero mia coita dizer
a quem sei bem ca nom mi há de poer
conselho mais do que m'eu i porrei.
  
15E o conselho já o eu filhei
que eu i porrei: ca 'ssi me convém
morrer coitado, como morre quem
nom há conselho, com'hoj'eu nom hei.
E esta morte melhor me será
20ca de viver na coita que nom há
par, nen'a houve nunca, eu o sei.
  
E melhor est, e mais será meu bem,
de morrer ced', e nom saberem quem
é por quem moir'e que sempre neguei.



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Nota geral:

Justificando-se perante as pessoas que estranham ele não compor cantigas há muito tempo, o trovador alega o amor desesperado que sente e que o irá matar. Consciente que ninguém lhe dará uma outra solução para as suas mágoas, diz optar pelo silêncio, enquanto espera morrer rapidamente.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Mozdobre (vv. 6 e 7 de cada estrofe)
vivi/ viverei (I), poer/ porrei (II), há/ houve (III)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 183

Cancioneiro da Ajuda - A 183


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas