Vasco Gil


Senhor fremosa, pois pesar havedes
de que vos amo mais ca mim nem al,
direi-vos gram verdad'- e se nom, mal
me venha de vós que me mal queredes:
5nom vos quer'eu, pelo meu grado, bem!
E mia senhor, pois que vos pesa en,
dizer-vos quer'eu a quem vos tornedes:
  
a vós, senhor, que tam bem parecedes,
e a quem vos fez parecer assi
10- que quantas donas eno mundo vi
de parecer todas las vós vencedes
e de bom prez e de falar melhor.
E pois Deus tanto bem vos fez, senhor,
de vos amar nom me vos en queixedes.
  
15Ca nom é em mim, mao meu pecado!,
nem quer Amor que m'en possa quitar,
nem Deus, senhor, nem vosso semelhar,
 ca me têm de tal guisa forçado
que me vos fazem mui de coraçom
20querer gram bem; e, si Deus me perdom!,
nom vos faç'i pesar pelo meu grado.
  
E, mia senhor, se Deus fosse pagado
d'eu de gram coita guardado seer,
nom me mostrara vosso parecer,
25nem vós, senhor, que eu, mal dia nado,
por meu mal vi e destes olhos meus!
E pois vos vi, nunca despois quis Deus
que perdess'eu gram coita nem coidado!
  
E gram coita, como a perderei?
30Pois que vos pesa porque vos amei,
sei, se viver, que viverei coitado.



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Nota geral:

Uma vez que o amor que tem à sua senhora formosa lhe causa pesar, o trovador justifica-se: não a ama por vontade própria. Assim, se ela quer virar-se contra alguém, é contra a sua beleza que se deve virar e contra quem a fez tão bela. Se Deus lhe deu tantas qualidades, não se deverá queixar, muito menos dele, que está simplesmente prisioneiro e nada pode fazer contra esse amor.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares (rima a dobla)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 151

Cancioneiro da Ajuda - A 151


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas