Pero Garcia Burgalês


 Por mui coitado per tenh'eu
quem vai querer bem tal molher
que seu serviço nom lhe quer
per nulha guisa gradecer.
5E, mal pecad'!, assi viv'eu,
coitad'! E que demo mi deu
coita pola nunca perder?
  
Nom por al, senom polo seu
bom parecer, da mia senhor,
10que nunca home viu melhor,
nem tal; se Deus me leix'haver
dela bem e me mostr'o seu
bom parecer, que lhe Deus deu
por já sempr'a mim mal fazer!
  
15Ca Deu'la fez, por mal de mim,
mais fremosa de quantas som
no mundo, si Deus me perdom!
 E vedes que mi ar fez por en:
fez-mi-a veer por mal de mim,
20ca nom por al; ca, poila vi,
nunca m'ar paguei doutra rem
  
senom dela, de que assi
estou como vos eu direi:
que todo quant'haver cuidei
25dela, poila vi, hei-o en.
Vedes por que o dig'assi:
cuidei dela, des que a vi,
haver gram coita sem seu bem.
  
Ca nunca dela cuidei al
30haver, par Deus que pod'e val,
erg'esta coita que me vem!



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Nota geral:

Começando por considerar muito infelizes aqueles que decidem amar quem nunca lhes agradece esse amor, o trovador diz que é esse exatamente o seu caso. E termina a primeira estrofe com uma pergunta retórica de cariz bem popular: mas porque diabo sofre ele por ela? Responde logo na estrofe seguinte: pela sua beleza sem par. Uma beleza que Deus fez para seu mal, já que, desde que a conheceu, nada mais lhe interessa. O certo, como conclui, é que tem dela tudo o que logo imaginou ter: desejo e sofrimento.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas (rima c singular)
Palavra(s)-rima: (v. 6 de cada estrofe)
deu (I, II), vi (III, IV)
Dobre: (vv. 1 e 5 de cada estrofe)
eu (I), seu (II), por mal de mim (III), assi (IV)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 95, B 202

Cancioneiro da Ajuda - A 95

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 202


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas