Pero da Ponte


D'ũa cousa sõo maravilhado:
porque se quer home desembargar
por posfaçar muit'e deostar,
e nulh'home nom seer seu pagado.
5Eu, por aquesto, bem vos jurarei
que tam mal torpe no mundo nom sei
com'é o torpe mui desembargado.
  
E quem [nom] se tem por desvergonhado
por dizer sempr'a quantos vir pesar
10e pelo mundo nom poder achar
nẽum home que seja seu pagado,
por desembargado nom lhi contarei;
mais, se o vir, vedes que lhi direi:
- Confonda Deus atal desembargado!
  
15Ca o torpe que sempr'anda calado
non'o devem por torpe a razõar,
pois que é torp'e leixa de falar;
e d'atal torpe sõo eu pagado;
mais o mal torpe eu vo-lo mostrarei:
20quem diz mal dos que som em cas d'el-rei,
por se meter por mais desembargado.



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Nota geral:

Crítica a um cortesão maldizente e insatisfeito com tudo e todos, em tom de sirventês moral. A cantiga joga com o sentido positivo e negativo do termo "desembargado" (desenvolto/atrevido) na crítica a este homem palavroso e enfatuado, que, segundo o segrel, faria melhor em calar-se. Não é impossível que a personagem fosse um desembargador (juiz) real.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (v. 4 de cada estrofe)
(s)eu pagado
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1638, V 1172

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1638

Cancioneiro da Vaticana - V 1172


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas