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Paio Gomes Charinho


Dom Afonso Lopes de Baiam quer      ←
fazer sa casa, se el pod'haver      ←
madeira nova; e, se mi creer,      ←
fará bom siso: tanto que houver      ←
5madeira, logo punh', ena cobrir,      ←
o fundamento bem alt'; e guarir      ←
 pod'o lavor per i, se o fezer.      ←
  
E, quand'el a madeira adusser,      ←
guarde-a bem e faça-a jazer      ←
10em logar que nom chôvia, ca torcer-      ←
s'-ia mui tost', e nom ar há mester;      ←
e, se o lavor nom quer escarnir,      ←
abra-lh'o fundament'alt'; e ferir,      ←
e muito batê-lo, quanto poder.      ←
  
15E pois o fundamento aberto for      ←
 alt'e bem batudo, pode lavrar      ←
em salvo sobr'el; e, pois s'acabar,      ←
estará da madeira sem pavor;      ←
e do que diz que a revolverá,      ←
20ant'esto faça, senom matar-s'-á,      ←
ca est'é o começo do lavor.      ←
  
E Dom Afonso pois há tal sabor      ←
de fazer bõa casa, começar      ←
 a dev[e] assi; e des i folgar      ←
25e jazer quand'e quando mester for      ←
descobri-la e cobri-la poderá      ←
 e revolvê-la, ca todo sofrerá      ←
a madeir', e seerá-l[h]i en melhor.      ←
  
E Dom Afonso tod'esto fará      ←
30que lh'eu conselho; se nom, perder-s'-á      ←
esta casa per mao lavrador.      ←



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Nota geral:

Esta cantiga é uma glosa-comentário a uma cantiga de D. Afonso Lopes de Baião, na qual o trovador exprime o desejo de fazer uma casa em Arouca, se a abadessa do mosteiro lhe der "madeira nova". (i.e., uma jovem freira). Tal como essa primeira composição, também esta é um equívoco erótico, aparentemente com algumas sugestões técnicas para lidar com esta "madeira". Note-se, no entanto, que Charinho aproveita para, jocosamente, desviar o equívoco inicial de D. Afonso numa outra direção, esta mais particularmente anatómica (e masculina), uma vez que a "madeira nova" agora em causa diz respeito ao próprio D. Afonso (ou seja, o termo "madeira" é aqui utilizado com um valor muito semelhante ao que nos surge numa cantiga de Afonso X).
Acrescente-se que, se a cantiga de D. Afonso Lopes de Baião datar efetivamente dos anos 1248-1250, esta será necessariamente uma composição de juventude de Paio Gomes Charinho.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras doblas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1625, V 1159
(C 1625)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1625

Cancioneiro da Vaticana - V 1159


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas