D. Dinis


 Melhor ca m'eu governo
o que revolv'o caderno
 govern'há e d'inverno
o vestem bem de brou;
5e jaz eno inferno
       o que o gaanhou.
  
Andam o seu comendo
e mal o despendendo
e baratas fazendo
10que el nunca cuidou;
e jaz no fog'ardendo
       o que o gaanhou.
  
 O que seu, mal pecado,
foi, é desbaratado;
15e anda en guisado
quem sempr'o seu guardou;
e jaz atormentado
       o que o gaanhou.



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Nota geral:

Cantiga de entendimento algo difícil, uma vez que, contrariamente ao que acontece na generalidade das cantigas satíricas, não sabemos exatamente a quem D. Dinis se dirige aqui. A referência ao "que revolve o caderno", feita na primeira estrofe, parece indicar que se trataria de um alto funcionário da Fazenda. Mas o refrão e o resto da cantiga parecem não se enquadrar nesta interpretação, já que aí o que é claramente aludido são os desbaratos feitos com a herança de um defunto. O problema da cantiga reside, pois, na identificação do defunto, que não é clara, e da relação deste com quem "se governa" com a sua herança.
Atendendo a estes dados, é assim muito possível que a cantiga se relacione com um dos casos mais polémicos do reinado de D. Dinis, a complicada questão da herança dos Sousa, processo que, na sequência da morte, sem descendentes diretos, do poderoso conde D. Gonçalo Garcia de Sousa, ocorrida em 1285, esteve na origem das importantes inquirições mandadas fazer por D. Dinis (inicialmente, a pedido dos numerosos herdeiros, que não se entendiam)1. A dimensão e importância deste caso, e a sua perfeita adequação a esta cantiga de D. Dinis, levam-nos a pensar, pois, que, de forma genérica, serão esses herdeiros os visado pela composição (o que ajudaria, aliás, a explicar a ausência de qualquer nome concreto).

Referências

1 Krus, Luís (1994), "D. Dinis e a herança dos Sousas. O inquérito régio de 1287", in Estudos Medievais, Porto, nº 10, 1993, p. 119-158; reed. in Passado, memória e poder na sociedade medieval portuguesa. Estudos , Redondo, Patrimonia.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1541

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1541


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas