João Garcia de Guilhade


Lourenço, pois te quitas de rascar
 e desemparas o teu citolom,
rogo-te que nunca digas meu som
e jamais nunca mi farás pesar;
 5ca per trobar queres já guarecer;
e farás-m'ora desejos perder
do trobador que trobou do Juncal.
  
 Ora cuid'eu [a] cobrar o dormir
que perdi: sempre, cada que te vi
 10rascar no cep'e tanger, nom dormi;
mais, poilo queres já de ti partir,
pois guarecer [buscas i] per trobar,
Lourenço, nunca irás a logar
u tu nom faças as gentes riir.
  
15E vês, Lourenço, se Deus mi perdom,
pois que me tolhes do cepo pavor
e de cantar, farei-t'eu sempr'amor,
e tenho que farei mui gram razom;
e direi-ti qual amor t'eu farei:
20jamais nunca teu cantar oírei
 que en nom ria mui de coraçom;
  
Ca vês, Lourenço, muito mal prendi
de teu rascar, e do cep'e de ti;
mais, pois t'en quitas, tudo ti perdom.



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Nota geral:

Lourenço, o célebre jogral que acompanhava, ou acompanhou durante algum tempo, João Garcia de Guilhade, é aqui motejado pelo seu amo, que saúda o facto de ele se ter decidido a deixar de tocar para se dedicar à composição de trovas - ainda que ele se sujeite a ser ridicularizado, pelo menos as noites ficarão mais sossegadas.
Lourenço esteve, como é sabido, no centro de uma animada polémica sobre as hierarquias trovadorescas, até porque, ao contrário dos outros jograis atacados, e que aparentemente ficaram silenciosos, ele não só se defende em várias tenções, como contra-ataca por quatro vezes.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1495, V 1106

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1495

Cancioneiro da Vaticana - V 1106


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas