João Baveca


Dom Bernaldo, pesa-me que tragedes
mal aguadeir'e[n'] esse balandrau;
e aqui dura muit'o tempo mau,
e vós e[m] esto mentes nom metedes;
5e conselho-vos que catedes al
que 'n cobrades, ca esse nom é tal
que vos vós sô el muito nom molhedes.
  
E quem vos pois vir la saia molhada,
bem lheu terrá que é com escasseza,
10e em vós houve sempre gram largueza;
e pois aqui vee[m] la invernada,
maravilha será se vos guardar
um dia puderdes de vos molhar
so ũa mui boa capa dobrada.
  
15E Dom Bernaldo, vel em esta guerra,
de quanto vo-lo vosso home al mete,
haved'ũa capa ou um capeirete,
pero capa nunca s'a vós bem serra;
ar queredes-vos vós crás acolher
20e cavalgar, e nom pode seer
que vos nom molhedes en'essa terra.



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Nota geral:

Retomando o assunto de uma anterior cantiga, João Baveca reforça a zombaria contra Bernaldo de Bonaval, aqui em forma de cerradíssimo equívoco. Aparentemente o que se critica é apenas a péssima roupa que o segrel usaria e que o deixaria todo molhado no inverno. De facto, o universo é também o das alusões homossexuais, como genericamente se compreende. De resto, por outras ocorrências no cancioneiro satírico, se pode depreender que o termo "capa" teria, em linguagem popular, um duplo sentido, que, infelizmente, não é muito fácil entender (vide, entre outras, esta cantiga de Pedro Amigo de Sevilha). É ainda possível que, na segunda estrofe, haja igualmente um equívoco com questões de medidas.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1459, V 1069

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1459

Cancioneiro da Vaticana - V 1069


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas