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  (linha 18)

Pedro, conde de Barcelos

Rubrica:

    

Esta cantiga de cima foi feita a um Meestre d'ordim de cavalaria, porque havia sa barragãã e fazia seus [filhos] em ela ante que fosse Meestre; e depois havia ũa tenda em Lisboa, em que tragia mui grande haver a gaanho; e aquela sa barregãã, quando lhi algũus dinheiros vinham da terra da Ordem e que Meestre i nom era, enviava-os aaquela tenda, pera gaanharem com eles pera seus filhos; e depois tirarom ende os dinheiros da tenda e derom-nos em outras praças pera gaanharem com eles, e ficou a tenda desfeita; e nom leixou por en o Meestre depois a [barre]gãã.


Um cavaleiro havia      ←
ũa tenda mui fremosa      ←
 que, cada que nela siia,      ←
assaz lh'era saborosa;      ←
5e um dia, pela sesta,      ←
u estava bem armada      ←
de cada part', espeçada      ←
foi toda pela Meestra.      ←
  
Na tenda nom ficou pano      ←
10nem cordas nem guarnimento      ←
que toda nom foss'a dano,      ←
pelo apoderamento      ←
da Maestra, que, tirando      ←
 foi tanto pelo esteo,      ←
15que por esto, com'eu creo,      ←
se foi toda [e]speçando.      ←
  
A corda foi em pedaços      ←
 e o mais do al perdudo;      ←
mais ficarom-lhi dous maços      ←
 20[a] par do esteo merjudo,      ←
e a Maestra metuda      ←
na grand'estaca, jazendo;      ←
e foi-s'a tenda perdendo      ←
assi como é perduda.      ←
  
25Per míngua de bom meestre      ←
pereceo tod'a tenda;      ←
que nunca se dela preste      ←
pera dom nem pera venda,      ←
 ca leixou, com mal recado,      ←
30a Meestra tirar tanto      ←
da tenda, que, já enquanto      ←
viva, seerá posfaçado.      ←



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Nota geral:

A longa rubrica que acompanha esta cantiga define as personagens e circunstâncias que lhe deram origem: um Mestre de uma Ordem de Cavalaria, com sua barregã tendeira e seus filhos, todos vivendo à custa dos dinheiros da Ordem, com os quais, aliás, especulavam. O negócio não lhes teria, no entanto, corrido da melhor forma, sendo finalmente obrigados a fechar a venda. Se esta história constitui a primeira leitura da cantiga, entenda-se, no entanto, o equívoco erótico que ela representa.
Embora, neste caso, o trovador não identifique nem o Mestre nem a Ordem, é muito possível que, como geralmente acontece nas sátiras que aludem à vida particular de personagens públicas, a cantiga tivesse uma dimensão política muito concreta. Investigações recentes, de Graça Videira Lopes1 e Cláudio Neto2, sugerem mesmo que o mestre em questão poderia eventualmente ser um dos irmãos Escacho, Pero ou Garcia Peres, que se sucederam à frente da Ordem de Santiago, o primeiro de 1319 a 1329, o segundo de 1329 a 1346. Ambos muito relacionados com a burguesia mercantil de Lisboa, eram também muito próximos de Afonso IV, numa fidelidade que vinha já dos tempos do conflito do então infante com seu pai, D. Dinis.

Referências

1 Lopes, Graça Videira (2012), "Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas", Medievalista [Em linha]. Nº12, (Julho - Dezembro 2012), Lisboa, IEM/FCSH-UNL.
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2 Neto, Cláudio (2012), As Ordens Militares na cultura escrita da Nobreza - 1240-1350. Representações nas cantigas de escárnio e de maldizer, FCSH-UNL, Dissertação de Mestrado.
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Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1039

Cancioneiro da Vaticana - V 1039


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas