João Servando


Comerom [os] infanções, em outro dia,
apartados, na feira de Santa Maria,
e derom-lhi linguados por melhoria,
que nunca vi tam poucos, des que naci.
5       Eu cõn'os apartados fui entom i
       apartado da vida, e nom comi.
  
Direi-vos como forom i apartados:
deram-lhis das fanegas e dos pescados
atanto, per que forom mui lazerados,
10que, des quando foi nado, nunca chus vi.
       Eu cõn'os apartados fui entom i
       apartado da vida, e nom comi.
  
Apartarom-se eles, por comer bem,
melhor que comeriam em almazém;
15e pois, quando s'erger nom podiam en,
tirar[om] mui bem as pernas cara si.
       Eu cõn'os apartados fui entom i
       apartado da vida, e nom comi.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Mais uma cantiga um tanto sibilina, dirigida a um grupo de infanções pelintras, abordando o habitual tema das suas parcas refeições. A composição, girando à volta do pouco peixe que eles comiam numa feira, joga sobretudo com o termo apartados, cujo sentido não é bem claro. À primeira vista o termo parece indicar que comiam longe de todos, talvez para não terem de partilhar a comida comum (como parece depreender-se da terceira estrofe). No entanto, é também possível que, oralmente, houvesse um equívoco com "apertados", no sentido de "em apuros de dinheiro", ou sovinas.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

V 1029

Cancioneiro da Vaticana - V 1029


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas