João Lobeira


Um cavaleiro há 'qui tal entendença
qual vos eu agora quero contar:
faz, u dev'a fazer prazer, pesar,
 e sa mesura toda é entença;
5e o que lhi preguntam, respond'al;
e o seu bem fazer é fazer mal,
e todo seu saber é sem sabença.
  
E nom depart'em rem, de que se vença,
pero lh'outro [a]guisado falar;
 10e verveja, u se dev'a calar,
e nunca diz verdad', u mais nom mença;
 e, u lhi pedem cousimento, fal;
pero é mans', u dev'a fazer al
 e, u deve sofrer, é sem sofrença.
  
15Des i er fala sempr'em conhocença
que sabe bem sem-conhocer mostrar;
e dorme, quando se dev'espertar,
e meos sab', u mete mais femença;
e, se com guisa diz, logo s'en sal;
20e, u lh'avém algũa cousa tal
que lh'é mester cienç', é sem ciença.
  
E nom lhi fazem mal, de que se sença,
ante leix'assi o preito passar,
e os que lhi deviam a peitar,
25peita-lhis el, por fazer aveença,
e diz que nẽum prez nada nom val;
mais Deus, que o fez tam descomunal,
lhi queira dar, por saúde, doença.



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Nota geral:

Retrato de um cavaleiro "descomunal", como lhe chama João Lobeira: agindo a despropósito, sempre fora do senso comum (e do bom senso).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1389, V 998
(C 1389)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1389

Cancioneiro da Vaticana - V 998


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas