Pero Garcia Burgalês


Roi Queimado morreu com amor
em seus cantares, par Santa Maria,
por ũa dona que gram bem queria;
e por se meter por mais trobador,
5porque lh'ela nom quis[o] bem fazer,
feze-s'el em seus cantares morrer;
 mais ressurgiu depois ao tercer dia.
  
Esto fez el por ũa sa senhor
que quer gram bem; e mais vos en diria:
10porque cuida que faz i maestria,
enos cantares que fez há sabor
de morrer i e des i d'ar viver.
Esto faz el, que x'o pode fazer,
mais outr'homem per rem non'o faria.
  
15E nom há já de sa morte pavor,
senom sa morte mais la temeria,
mais sabe bem, per sa sabedoria,
que viverá, des quando morto for;
e faz-[s'] em seu cantar morte prender,
20des i ar vive: vedes que poder
que lhi Deus deu - mais quen'o cuidaria!
  
E se mi Deus a mi desse poder
qual hoj'el há, pois morrer, de viver,
jamais [eu] morte nunca temeria.



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Nota geral:

Dirigida ao trovador Rui Queimado, esta composição é uma das mais célebres paródias ao cliché da morte de amor, tão repetidamente jurada nas cantigas de amor de todos os trovadores galego-portugueses (Pero Garcia Burgalês não sendo, aliás, exceção). A sátira que aqui desenvolve talvez tivesse sido propiciada por uma particular cantiga de Rui Queimado, na qual este trovador, por amor da sua senhor, lhe diz que se arrepende da sua anterior decisão de querer morrer, cantiga esta que tem, aliás, também ela, um tom semi-jocoso. Note-se, entretanto, que esta paródia de Pero Garcia Burgalês visa, ao mesmo tempo, e mais especificamente, os dotes poéticos de Rui Queimado, cujo problema, para Pero Garcia, seria querer "meter-se" a fazer aquilo que não sabe.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1380, V 988

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1380

Cancioneiro da Vaticana - V 988


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas