| | | João Zorro |
| | | | - Cabelos, los meus cabelos, | | | | el-rei m'enviou por elos, | | | | [ai] madre, que lhis farei? | | | | - Filha, dade-os a el-rei. | | | 5 | | - Garcetas, las mias garcetas, | | | | el-rei m'enviou por elas, | | | | [ai] madre, que lhis farei? | | | | - Filha, dade-as a el-rei. |
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| Nota geral: Pequeno diálogo entre mãe e filha (eventualmente incompleto), onde o que se diz é apenas uma pequena parte do que se subentende: os cabelos (tranças) que o rei pede à donzela significam, metonimicamente, que ele a quer para si (para além do valor sensual dos cabelos, tenha-se ainda em conta que, na época, só as donzelas usavam o cabelo descoberto, devendo as donas cobrir a cabeça com um véu ou toucado). Aconselhando a filha a ceder a esse pedido, a mãe pode estar a sugerir que os pedidos do rei são ordens; ou pode estar a sugerir apenas uma solução conveniente para o seu futuro. A referência concreta ao rei nesta cantiga faz dela um caso particular no universo das cantigas de amigo que nos chegaram (uma vez que em todas as outras a figura masculina é sempre a de um amigo, genericamente não identificável). Não sendo muito evidente qual será o verdadeiro sentido desta referência, deve notar-se que ela não é única na obra de João Zorro, já que o rei (D. Dinis, ao que tudo indica) é um dos "atores" do seu ciclo de cantigas em torno das "barcas novas". Pensamos, por isto mesmo, que esta curta composição - rodeada, nos manuscritos, pelas outras cantigas desse ciclo - poderia pertencer-lhe, sem que, mais uma vez, tenhamos qualquer certeza (e sem que esse facto contribua para o nosso esclarecimento quanto ao sentido real da cantiga).
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