João Airas de Santiago


Diz meu amigo tanto bem de mi
quant'el mais pod'e de meu parecer,
e os que sabem que o diz assi
têm que hei eu que lhi gradecer;
 5       em quant'el diz, nom lhi gradesc'eu rem,
        ca mi sei eu que mi paresco bem.
  
Diz-mi fremosa e diz-mi senhor,
e fremosa mi dirá quem me vir,
e têm que mi faz mui grand'amor
10e que [eu] hei muito que lhi gracir;
       em quant'el diz, nom lhi gradesc'eu rem,
       ca mi sei eu que mi paresco bem.
  
Diz muito bem de mim em seu trobar
 com gram dereit', e al vos en direi:
 15têm bem quantos me lh'oem loar
que eu muito que [lhi] gradecer hei;
       em quant'el diz, nom lhi gradesc'eu rem,
       ca mi sei eu que mi paresco bem.
  
Ca, se eu nom parecesse mui bem,
20de quant'el diz non'[o] diria rem.



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Nota geral:

Com malicioso e ingénuo auto-convencimento, a donzela discorda dos que dizem que deveria agradecer ao seu amigo os numerosos e repetidos elogios que ele faz às suas qualidades e à sua beleza: não lhe agradece nem tem nada que lhe agradecer, pois também sabe perfeitamente que é bonita. E se não fosse, ele não o diria.
Note-se que, na repetição que a donzela faz dos elogios que lhe faz o seu amigo, esta cantiga funciona como uma espécie de imagem invertida (em voz feminina) das cantigas de amor do trovador.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1024, V 614

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1024

Cancioneiro da Vaticana - V 614


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas