Rui Fernandes de Santiago


Quantas coitas, senhor, sofri
por vos veer, u me quitei
de vós e vosco nom morei!
E pois me Deus aduss'aqui,
5       dizer-vos quer'o que m'avém:
       tanto me nembr'agora já
       come se nunca fosse rem.
  
Pero que vivo na maior
coita que podia viver,
10desejando-vos a veer,
e, pois vos vejo, mia senhor,
       dizer-vos quer'o que m'avém:
       tanto me nembr'agora já
       come se nunca fosse rem.
  
15Pero quem tanto mal levou,
com'eu levei, e tant'afã,
a nembrar-lh'havia, de pram;
e pois me vos Deus amostrou,
       dizer-vos quer'o que mi avém:
20       tanto me nembr'agora já
       come se nunca fosse rem.



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General note:

O trovador diz à sua senhora que, tendo sofrido cruelmente longe dela, com a ânsia de a ver, agora que Deus permitiu que estar na sua presença esqueceu completamente esse sofrimento. Quem sofre tanto como ele decerto deveria lembrar-se de alguma coisa, mas não é isso que lhe acontece: todo o sofrimento passado é agora nada.
Note-se, no entanto, que a cantiga é suficientemente ambígua para permitir uma leitura paródica (de paródia amorosa): quando está em presença da dama (na sua prsença concreta) o trovador esquece-se do sofrimento e também do amor que por ela sentia (e que, nesta interpretação, resultariam apenas da distância enganadora).



General note


Description

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
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Manuscript sources

B 899, V 484
(C 899)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 899

Cancioneiro da Vaticana - V 484


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown