João Soares Coelho


 Per boa fé, mui fremosa sanhuda
 sej'eu, e trist'e coitada por en
por meu amig'e meu lum'e meu bem
que hei perdud'e el mi [há] perduda
5       porque se foi sem meu grado daqui.
  
Cuidou-s'el que mi fazia mui forte
pesar de s'ir, por que lhi nom falei,
 pero bem sabe Deus ca nom ousei,
mais seria-lh'hoje melhor a morte
10       porque se foi sem meu grado daqui.
  
Tam cruamente lho cuid'a vedar
que bem mil vezes no seu coraçom
rog'el a Deus que lhi dê meu perdom
ou sa morte, se lh'eu nom perdoar
15       porque se foi sem meu grado daqui.



 ----- Increase text size ----- Decrease text size

General note:

A donzela (formosa e zangada) está triste: o seu amigo partiu, e contra a sua vontade. De modo que o amor entre eles pode estar perdido. É certo que ela não lhe falou à despedida, mas foi apenas porque não ousou. E agora sabe que ele só deseja morrer e que pede mil vezes a Deus que ela lhe perdoe (essa partida, que ela fortemente contrariou).
Note-se que, sobretudo na 3ª estrofe da cantiga, esta voz feminina limita-se praticamente a assumir os argumentos que são os habituais da voz masculina das cantigas de amor (como se a donzela tivesse acesso direto ao que pensa e sente o seu amigo - ou como se o trovador não tivesse completado totalmente a passagem à voz feminina).
Seja como for, não é impossível que esta voz feminina entre aqui em diálogo com uma cantiga de amor do trovador, que gira em torno de uma despedida de características semelhantes.



General note


Description

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Learn more)


Manuscript sources

B 678, V 280
(C 678)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 678

Cancioneiro da Vaticana - V 280


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown