João Peres de Aboim


O por que sempre mia madre roguei
- que vos visse, meu amigo -, nom quer,
mais pesar-lh'há muito, quando souber
que vos eu dig'esto que vos direi:
 5       cada que migo quiserdes falar,
       falade mig', e pês a quem pesar.
  
Pês a quem quer e mate-se por en,
ca post'é já o que há de seer:
veer-vos-ei, se vos poder veer,
 10e poderei, ca, meu lum'e meu bem:
       cada que migo quiserdes falar,
       falade mig', e pês a quem pesar.
  
Pois entendo que mia mort'e meu mal
quer, pois nom quer rem de quant'a mi praz,
15e, poilo ela por aquesto faz,
fazed'aquest', e depois fará-s'al:
       cada que migo quiserdes falar,
       falade mig', e pês a quem pesar.
  
Sempr'eu punhei de mia madre servir,
20mais por esto ca por outra razom,
por vos veer, amig', e por al nom,
mais, pois mi o ela nom quer consentir,
       cada que migo quiserdes falar,
       falade mig', e pês a quem pesar.



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General note:

É uma declaração de rebeldia o que esta voz feminina nos faz ouvir. Dirigindo-se ao seu amigo, a donzela avisa-o de que, quer a sua mãe queira ou não queira, falará com ele sempre que ele quiser. A mãe pode zangar-se, ou mesmo matar-se, que nada alterará a sua decisão, que está tomada. O facto de a mãe não querer que eles se vejam só pode significar que deseja a sua morte. De resto, acrescenta, se como filha sempre lhe obedeceu, o objetivo era sobretudo conseguir que ela a deixasse ir ter com ele. Como não deixa, ver-se-ão à sua revelia e logo se verá.



General note


Description

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Learn more)


Manuscript sources

B 675, V 277

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 675

Cancioneiro da Vaticana - V 277


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown