Vasco Praga de Sandim


Per bõa fé, meu coraçom,
mal me per fostes conselhar
aquel dia 'm que vós filhar
me fezestes esta senhor!
 5Ca cedo mi per fez saber
quejandas noites faz haver
Amor, a quem el preso tem!
  
E, mao meu pecado!, nem
foi nunca soo em pensar
10que s'ela quisesse pagar
de saber eu qual bem Amor
a seu preso faz prender,
quando se dele sol doer:
ca nunca lhe per al faz bem!
  
 15Mais pero nom hei eu razom
de me por en a vós queixar,
mais a mim, que mi a foi buscar.
E alguém foi já de melhor
 sem que eu i soubi seer;
 20ca, de pram, mi a cuidei veer
 e nom lazerar pois por en!
  
E se eu sem houvess'entom,
nom fora tal cuido cuidar;
e quen'a hoje vir falar
25e parecer, se homem for
que sem haja, há [d']entender
 ca nom devia eu fazer
o que ali cuidei, per rem.



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General note:

O trovador começa por se dirigir ao seu coração, lamentando o mau conselho que lhe deu no dia em que o fez apaixonar-se pela sua senhora. Pois ela logo lhe fez conhecer as (péssimas) noites que o Amor dá àqueles que são seus prisioneiros. E nem nunca pensou que ela gostasse de o ver experimentar o tratamento que o Amor dá a esses prisioneiros: nunca lhes dar qualquer bem. De qualquer forma, não é do seu coração que ele se tem de queixar, mas de si mesmo, pois tem o que procurou. Outros foram mais sensatos do que ele, que acreditava poder vê-la e não sofrer depois as consequências. Se tivesse sido sensato, não teria imaginado tal coisa. Pois qualquer homem ajuizado, quando a ouve falar e vê a sua beleza, compreende que ele não deveria ter tido essas ilusões.



General note


Description

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra perduda: vv. 1, 4 e 7 de cada estrofe
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Manuscript sources

B 86

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 86


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown