Fernão Rodrigues de Calheiros


Ora faz a mim mia senhor
como senhor pode fazer
a vassalo, que defender
nom se pode, nem há u lh'ir:
5e faz-mi a mercê viir
d'Amor, com'home preso vem;
Nostro Senhor, mi o saqu'a bem!
  
Muit'i vou eu a gram pavor
e dereit'é em me temer
 10d'Amor, on[de] cuid'a dizer
mal e on[de] quer[o] partir;
e haverei ora a sentir,
e nom com torto nulha rem,
ca eu mi o mereci mui bem!
  
15Se me mal ou coita veer,
com'[é] guisad', eu mi o busquei
muit'e eu mi o lazerarei.
Mais mia senhor faz seu prazer,
pois que me tem em seu poder:
20que [me] faz entrar em prisom,
u me nom jaz se morte nom.
  
Tod'eu farei, quanto quiser
mia senhor, que de fazê-l'hei.
Pero com que olhos irei
25ant'Amor, e a seu poder?
Tam grave m'é de cometer
que mi o nom cab'o coraçom,
nem mi o sab'outrem, se Deus nom!



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General note:

Curiosa cantiga na qual o trovador recorre ao quadro das normas e do vocabulário do sistema feudal de vassalagem para descrever a sua situação amorosa. No caso, imaginando um tribunal do Amor, onde ele, como um vassalo indefeso e receoso, é obrigado a comparecer. Incapaz de se justificar devidamente (porque "falará mal"), terá de sofrer as merecidas consequências e permanecer na prisão.



General note


Description

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: (v. 7 de cada estrofe)
bem (I, II), nom (III, IV)
Palavra perduda: v. 1 de cada estrofe
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Manuscript sources

B 58

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 58


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown