Pero da Ponte


 Mentre m'agora d'al nom digo [nada]
d'um meu amigo vos quero dizer:
 amor sem prol é palavra doada;
de tal amor nom hei eu que fazer,
5nem outrossi hei eu por que temer
o desamor, que nom mi há nuzir nada.
  
Nom me tem'eu já de grand'espadada
que del prenda, nos dias que viver,
nem s'ar tem'el de nulha rem doada
10que eu del lev', a todo seu poder;
nem m'ar tem'eu de nunca del prender
jamais bom dom nem bõa espadada.
  
E quem viu terra tam mal empregada,
nen'a cuida nunca mais a veer?
15Que nom merece carta de soldada,
e dá-lh'o Demo terra e poder;
e muitas terras pod'home saber,
mais nunca terra tam mal empregada.
  
E o que nom val, e podia valer,
20este merece terra jazer,
 mais nom [sô] terra [d]'ũa polegada.



 ----- Increase text size ----- Decrease text size

General note:

Cantiga em forma de sirventês moral sobre o sentido da palavra amigo: a amizade deve traduzir-se em atos e não em palavras. De outra forma, ter um amigo ou um inimigo é indiferente. Apesar do tom geral da cantiga, é óbvio que Pero da Ponte se dirige aqui a alguém em particular.



General note


Description

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: imperf. (v. 3, em I e II):
doada;
(v. 4 em II e III)
poder
Dobre: nada, espadada, terra tam mal empregada (vv. 1 e 6 de cada estrofe)
Finda
(Learn more)


Manuscript sources

B 1644, V 1178

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1644

Cancioneiro da Vaticana - V 1178


Musical versions

Originals

Unknown

Contrafactum

Unknown

Modern Composition or Recreation

Unknown