Pero da Ponte


Pois de mia morte gram sabor havedes,
senhor fremosa, mais que doutra rem,
nunca vos Deus mostr'o que vós queredes,
pois vós queredes mia mort'; e por en
5       rog'eu a Deus que nunca vós vejades,
       senhor fremosa, o que desejades.
  
Nom vos and'eu per outras galhardias,
mais sempr'aquesto rogarei a Deus:
em tal que tolha El dos vossos dias,
10senhor fremosa, e e[m] nada nos meus.
       Rog'eu a Deus que nunca vós vejades,
       senhor fremosa, o que desejades.
  
E Deus [que] sabe que vos am'eu muito,
e amarei enquant'eu vivo for,
15El me leix'ante por vós trager luito
ca vós por mi; [e] por en mia senhor
       rog'eu a Deus que nunca vós vejades,
       senhor fremosa, o que desejades.



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Nota geral:

Falsa cantiga de amor, de notável musicalidade, que tem andado afastada do cancioneiro satírico, quando é aí que deve encontrar o seu lugar. Mantendo elementos característicos da cantiga de amor (nomeadamente o vocativo senhor fremosa), a composição é, na verdade, uma espécie de original contra-ataque aos desdéns de uma dona: se ela deseja a sua morte, o trovador pede a Deus, não só que nunca lhe dê tal prazer, como que seja ela a morrer primeiro (ou que seja ele a trazer luto por ela, na curiosa expressão utilizada na última estrofe).



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 984, V 571

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 984

Cancioneiro da Vaticana - V 571


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas