Fernão Padrom


Se vos prouguess', Amor, bem me devia
cousimento contra vós a valer,
que mig'havedes filhada perfia
tal que nom sei como possa viver
5sem vós, que me tẽedes em poder
e nom me leixades noite nem dia.
  
Por esto faz mal sem quem s'em vós fia,
com'eu, que houvera end'a morrer
por vós, Amor, em que m'eu atrevia
10muit'e cuidava convosc'a vencer
a que me vós fezestes bem querer;
e falistes-m'u vos mester havia.
  
E por aquest', Amor, gram bem seria
se eu per vós podesse bem haver
15de mia senhor - ond'eu bem haveria
sol que vós end'houvéssedes prazer;
mais vós, Amor, nom queredes fazer
nulha rem de quant'eu por bem terria.
  
E de bom grado já m'eu partiria
20de vós, Amor, se houvess'en lezer,
mais acho-vos comigo todavia
cada u vou por me vos asconder.
E pois sem vós nom posso guarecer,
se me matássedes já, prazer-m'-ia.



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Nota geral:

O trovador dirige ao Amor (personificado) as suas queixas e súplicas. Começando por dizer que ele bem deveria ser mais comedido no modo como o trata, pois agarrou-o nas suas redes e não o larga noite dia, o trovador considera em seguida que é um erro alguém confiar nele, como ele confiou, pensando conseguir obter, com a sua ajuda, os favores da sua senhora. Mas aí, quando dele mais precisava, o Amor traiu-o e não veio em seu auxílio. Por isso mesmo, deveria agora acorrer-lhe, coisa que decerto não fará. Por fim, o trovador confessa ainda que de bom grado se afastaria dele, mas não consegue: quanto mais tenta escapar ao seu domínio, mais o Amor o persegue. Termina, pois, por lhe sugerir que o mate



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 285, B 976, V 563
(C 977)

Cancioneiro da Ajuda - A 285

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 976

Cancioneiro da Vaticana - V 563


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas