Afonso Anes do Cotom, Pero da Ponte


- Pero da Pont', e[m] um vosso cantar,
que vós ogano fezestes d'amor,
foste-vos i escudeiro chamar.
E dized'ora tant', ai trobador:
5pois vos escudeiro chamastes i,
porque vos queixades ora de mi,
por meus panos, que vos nom quero dar?
  
- Afons'Anes, se vos en pesar,
tornade-vos a vosso fiador;
10e de m'eu i escudeiro chamar,
e por que nom, pois escudeiro for?
E se peç'algo, vedes quant'há i:
nom podemos todos guarir assi
come vós, que guarides per lidar.
  
15- Pero da Ponte, quem a mi veer
desta razom ou doutra cometer,
querrei-vo-lh'eu responder, se souber,
como trobador deve responder:
em nossa terra, se Deus me perdom,
20a tod'o 'scudeiro que pede dom
as mais das gentes lhe chamam segrel.
  
- Afons'Anes, est'é meu mester,
e per esto dev'eu a guarecer
e per servir donas quanto poder;
25mais ũa rem vos quero [eu] dizer:
em pedir algo nom dig'eu de nom,
a quem entendo que faço razom,
e alá lide quem lidar souber.
  
- Pero da Ponte, se Deus vos perdom,
30nom faledes mais em armas, ca nom
vos está bem, esto sabe quem quer.
  
- Afons'Anes, filharei eu dom,
e lidade vós, ai cor de leom,
e faça quis cada quem seu mester.



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Nota geral:

Esta tenção entre Afonso Eanes do Cotom e Pero da Ponte coloca-nos em pleno centro do universo trovadoresco, com os seus graus e hierarquias, e respetivos direitos e deveres. Embora a diferença de estatuto social entre Cotom e Pero da Ponte não fosse talvez grande, Cotom ataca aqui o seu colega por este, tendo-se chamado a si mesmo escudeiro numa cantiga, lhe exigir pagamento, como um simples jogral (quando seria suposto realizar a sua arte desinteressadamente). Como defesa, Pero da Ponte ataca, ironizando sobre a alegada vocação militar de Cotom: nem todos poderiam prosperar com o ofício das armas, cada um deveria aproveitar os respetivos talentos.
A seguir a esta tenção, em V (em B só 1ª frase) lê-se: A quantos sabem trobar/ quero eu que vejam o enfadamento das trobas feitas e pois verom que ningũa cosa nom podem prestar. Embora em V a frase apareça disposta em forma de estrofe (e em B Colocci tenha numerado como tal a primeira frase e o espaço em branco que a segue, com o nº 970), tratar-se-á certamente de um comentário posterior, talvez da mesma época das trovas apócrifas acrescentadas, aqui e ali, aos primitivos manuscritos galego-portugueses, aproveitando alguns espaços em branco. Tal como acontece com algumas destas trovas, desconhecemos quem teria sido o autor deste curioso comentário depreciativo.



Nota geral


Descrição

Tenção
Mestria
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 969, V 556

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 969

Cancioneiro da Vaticana - V 556


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas