João Airas de Santiago


Tôdalas cousas eu vejo partir
  do mund', em como soíam seer,
e vej'as gentes partir de fazer
bem que soíam, tal tempo nos vem!
5Mais nom se pod'o coraçom partir
       do meu amigo de mi querer bem.
  
Pero que home part'o coraçom
das cousas que ama, per bõa fé,
e parte-s'home da terra ond'é,
10e parte-s'home d'u gran[de] prol tem,
nom se pode parti'lo coraçom
       do meu amigo de mi querer bem.
  
Tôdalas cousas eu vejo mudar,
mudam-s'os tempos e muda-s'o al,
15muda-s'a gente em fazer bem ou mal,
mudam-s'os ventos e tod'outra rem,
mais nom se pod'o coraçom mudar
       do meu amigo de mi querer bem.



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Nota geral:

Cantiga de amigo em nítido tom de sirventês moral. De facto, se formalmente estamos perante uma cantiga de amigo, temáticamente a composição afasta-se de tal maneira do género que apenas o refrão parece a ele remeter - o corpo das estrofes apresentando-se como uma interessantíssima reflexão sobre a mudança, numa notável antecipação do célebre soneto camoniano "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (mas aqui numa versão que o refrão torna otimista).
Acrescente-se que, nos Cancioneiros, a composição vem integrada na secção das cantigas de amor de João Airas e não na secção das suas cantigas de amigo, como seria de esperar, o que poderá indicar que também os compiladores se terão baralhado um pouco com o seu caráter híbrido.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
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Fontes manuscritas

B 963, V 550

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 963

Cancioneiro da Vaticana - V 550


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Cantigas do Mar: Tôdalas cousas eu vejo partir      versão audio disponível

Versão de Ivan Moody