Nota geral: Cantiga que pertence à zona de limite entre os géneros. Dificilmente classificável como de amor (que seria a sua vocação primeira), ela também não corresponde exatamente ao universo tradicional das cantigas satíricas. No entanto, quer a precisão deste retrato feminino em movimento, quer a clara alusão a um desejado rapto, quer, sobretudo, o tom risonho com que João Airas a constrói, fazem desta composição um exemplo de ambiguidade no que respeita ao género. É possível que a cantiga tenha sido composta num contexto bem preciso, de que infelizmente não temos notícia, e que o trovador aluda aqui a um qualquer episódio concreto (não necessariamente autobiográfico) de que uma dama galega teria sido protagonista. A este respeito, não podem deixar de assinalar-se ainda as coincidências geográficas e textuais com as duas composições que aludem ao rapto de D. Elvira Anes da Maia por Rui Gomes de Briteiros. Sendo certo que a cronologia de João Aires, bastante mais tardia, parece impedir que a sua cantiga seja contemporânea deste célebre episódio, talvez seja, no entanto, verosímil, como sugere José Carlos Miranda1, que ele possa ainda ser aqui o jocoso modelo de rapto bem sucedido.
Referências 1 Miranda, José Carlos (1996), Os trovadores e a região do Porto , Porto, Ed. Autor.
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