João Airas de Santiago


Que de bem mi ora podia fazer
Deus se quisess' (e nom lhi cust'ar rem):
contar-mi os dias que nom passei bem
e dar-mi outro[s] tantos a meu prazer
 5com mia senhor; ca, se Deus mi perdom,
os dias que viv'hom'a seu prazer
       dev'a contar que viv'e outros nom.
  
E mia vida non'a devo chamar
vida, mais mort', a que eu mi passei
 10sem mia senhor, ca nunca led'andei
e nom foi vida, mais foi gram pesar;
por en sabem quantos no mundo som:
os dias que viv'home sem pesar
       dev'a contar que viv'e outros nom.
  
15E os dias que me sem mia senhor
Deus fez viver, passe[i]-os eu tam mal
que nunca vi prazer de mim nem d'al
e esta vida foi tam sem sabor;
e quen'a julgar quiser com razom,
20os dias que viv'hom'a seu sabor
       dev'a contar que viv'e outros nom.



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Nota geral:

João Airas no seu melhor, partindo de uma ideia tão simples como produtiva: apenas os dias que alguém passa com gosto e alegria são verdadeira vida, os outros não contam. Assim, se o tempo que ele passa longe da sua senhora não pode considerar-se vida, mas sim morte, compreende-se o apelo inicial a que Deus o compense, dando-lhe tantos dias suplementares de prazer, quantos os que passou em tristeza, longe dela.
A cantiga seguinte desenvolve uma razom semelhante.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
Dobre: (vv. 4 e 6 de cada estrofe)
prazer (I), pesar (II), sabor (III)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 957, V 544

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 957

Cancioneiro da Vaticana - V 544


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas