Pero Guterres


Muitos a que Deus quis dar mui bom sem
e muit'alto linhag'e gram poder
e muit'outro bem, polo seu plazer,
de tod'esto me podem vencer bem
 5- sei-m'eu aquesto e al sei de mi:
 ca tôdolos deste mundo eu venci
d'amar, amando a que m'em poder tem.
  
A melhor dona e de melhor sem
e mais fremosa que Deus fez nacer,
10essa sei de coraçom bem querer,
mais de quantos donas quiserom bem
  nem querrám já; e pero éste assi,
 avém-m'ende o que eu nom mereci:
gram desamor que m'ela por en tem.
  
 15Pero de a tant'amar, a meu sem
mais de quantos outros Deus quis fazer
nem quantos me cuidam dest'a vencer,
venço-os eu, querendo-lhi gram bem;
 pero que nunca del'al entendi
20senom gram sanha, des quando a vi,
e mal talante que contra mi tem.
  
E, senhor rei de Portugal, aqui
julgad'ora se eu, amand'assi,
dev'a seer desamado por en.



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Nota geral:

Reconhecendo que não pode competir em estatuto social (em linhagem), em poder ou altas qualidades com muitos outros, o trovador afirma que numa coisa os pode a todos vencer: em amar aquela que o tem em poder. e que é a melhor, a mais sensata e a mais formosa dona das que Deus criou. E no entanto, como acrescenta, sofre uma sorte que não merece: ela detesta-o por isso. De modo que, na finda, toma o rei de Portugal como juiz, e pergunta-lhe se acha justo que ele, amando assim, seja tratado por ela de tal forma.
A declaração autobiográfica inicial (que nos leva a pensar que Pero Guterres pertenceria a uma família da pequena nobreza), bem como a interpelação final ao rei de Portugal (provavelmente D. Dinis) são elementos muito originais.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 921, V 509
(C 921)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 921

Cancioneiro da Vaticana - V 509


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas