Pesquisa no glossário
  (linha 32)

Rui Fernandes de Santiago


Se hom'houvesse de morrer,      ←
senhor, veendo gram pesar      ←
da rem que mais soubess'amar      ←
de quantas Deus quiso fazer,      ←
5eu nom podera mais viver:      ←
 u vos forom d'aqui filhar      ←
à força de vós e levar,      ←
e vos nom puid'eu i valer!      ←
  
Nom me soubi conselh'haver      ←
10per como podess'endurar      ←
a coit'em que me vi andar,      ←
pola forç'a que vos prender      ←
vi; e quiser'ante sofrer      ←
mort'ũa vez já ca ficar      ←
15vivo, por haver a estar      ←
tam grave pesar a veer;      ←
  
e nunca no mundo prazer      ←
des aqui jamais aguardar;      ←
e sempre m'haver a queixar      ←
20a Deus por El esto querer.      ←
Mais ũa rem posso creer:      ←
que Deus, que m'esto foi mostrar,      ←
por en me leixa de matar      ←
que haja sempre que doer;      ←
  
25e que nunca possa tolher      ←
estes meus olhos de chorar;      ←
e que sempr'haj'a desejar      ←
vós e o vosso parecer      ←
(que nunca mi há d'escaecer),      ←
30e no meu mal sempre cuidar;      ←
bem me posso maravilhar      ←
por mi a morte nom aduzer!      ←
  
E nunc'a Deus queira prazer      ←
que nunca El queira mostrar      ←
35a nulh'home tanto pesar      ←
quant'Ele poderia sofrer.      ←



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Sendo o registo desta composição o de uma cantiga de amor, o seu tema é, no entanto, raro, até pelo seu realismo: perante a impotência do trovador, a sua senhora foi levada dali à força e de forma violenta (possivelmente para um casamento arranjado). Este será, como nos diz, o maior dos sofrimentos, ao qual não sabe como pôde resistir: assistir a tudo e não lhe poder valer. Mais lhe valeria ter morrido do que ficar na situação em que está: vivo e sem qualquer esperança de prazer no futuro. Se Deus não o matou mas quer que ele sofra a vida inteira, ele garante, no entanto, à sua senhora distante que jamais esquecerá o seu rosto. Na finda, passando a um plano geral, ele exprime ainda o desejo de que Deus não dê a ninguém um sofrimento maior do que pode suportar.
Permanecendo, pois, no registo de uma cantiga de amor, a composição não deixe de ser igualmente uma veemente denúncia de uma situação de violência familiar, decerto comum na época (e que se junta às referidas por Paio Soares de Taveirós, Fernão Velho e Lourenço).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 308, B 900, V 485

Cancioneiro da Ajuda - A 308

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 900

Cancioneiro da Vaticana - V 485


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas