Pesquisa no glossário
  (linha 18)

Martim Moxa


Bem poss'Amor e seu mal endurar,      ←
tant'é o bem que de mia senhor hei,      ←
sol em cuidar no bem que dela sei;      ←
 ca sa mesur'e seu mui bom falar      ←
5e seu bom sem e seu bom parecer      ←
tod'é meu bem; mais que mal poss'haver,      ←
mentre a vir e no seu bem cuidar?      ←
  
Gradesc'a Deus que mi deu tal senhor,      ←
 tam de bõo prez e que tam muito val,      ←
 10e rogo-lhi que nunca deste mal      ←
me garesca, nem m'empare d'Amor;      ←
ante mi dê sempre poder e sem      ←
de a servir, ca est'é o meu bem      ←
  e aquest'é meu viço e meu sabor!      ←
  
15Ca seu fremoso catar e riir      ←
e falar bem, sempr'em bõa razom,      ←
assi m'alegra no meu coraçom,      ←
que nom cuid'al senom ena servir      ←
e no seu bem, se mi o Deus dar quiser;       ←
20como farei depois, se o houver,      ←
que o possa manteer e gracir?      ←
  
Ai Deus Senhor! Quando se nembrará       ←
esta dona, que tant'amo, de mim,      ←
que diga eu: "Tam bom dia servi      ←
25senhor que tam bom galardom mi dá!"?      ←
Pois em cuidar tam gram sabor ach'eu,      ←
rem nom daria, se houvess'o seu      ←
bem, por quant'outro bem eno mund'há.      ←
  
 E por end'am'e sérvi'e sõo seu,      ←
30desta senhor, e servi-la quer'eu,      ←
ca bom serviç'em bem s'encimará.      ←



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Contrariando as expetativas do ouvinte/leitor, o trovador começa por dizer que de bom grado suportará os males do Amor por ser grande o bem que recebe da sua senhora - bem este que é apenas, no entanto, como explica no v. 3, poder pensar nela e nas suas qualidades a todo o momento: na sua cortesia, na sua conversa agradável, na sua sensatez, na sua beleza. Que mal poderá ele sentir, pois, enquanto puder pensar nestas qualidades? Agradecendo a Deus ter-lhe dado tal senhora para amar, ele pede-Lhe, também de forma original, que nunca o cure deste mal, nem o proteja contra o Amor, mas que lhe dê antes forças para continuar a servi-la, já que nisso reside toda a sua alegria.
Na 3ª estrofe, o trovador faz o seu elogio, descrevendo o seu formoso olhar, o seu riso, as suas palavras sempre acertadas, qualidades que alegram o seu coração e o incitam a servi-la, na esperança de obter o seu favor. Mas acrescenta uma consideração também original: se conseguir, enfim, obter este favor, como poderá mantê-lo e agradecê-lo?
Em forma exclamativa, adianta na 4ª estrofe: quando de lembrará ela dele, de forma a que possa confirmar que o esforço foi recompensado com o justo prémio? Pois, se só em pensar nela tem prazer, para ter o seu favor trocaria tudo no mundo.
E termina, na finda, de forma otimista: o bom serviço receberá sempre o merecido prémio.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 897, V 482

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 897

Cancioneiro da Vaticana - V 482


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas