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  (linha 25)

Martim Moxa


Amor, nom qued'eu amando,      ←
nem quedo d'andar punhando      ←
como podesse fazer      ←
per que vossa graç'houvesse,      ←
5ou a mia senhor prouguesse;       ←
mais, per'o faç'a poder,      ←
       contra mia desaventura      ←
       nom val amar nem servir,      ←
       nem val razom nem mesura,      ←
10       nem val calar nem pedir.      ←
  
Am'e sirvo quanto posso      ←
e praz-me de seer vosso;      ←
e sol que a mia senhor      ←
nom pesasse meu serviço,      ←
15Deus nom me dess'outro viço;      ←
 mais, faç'end'eu o melhor,      ←
       contra mia desaventura      ←
       nom val amar nem servir;      ←
       nem val razom nem mesura,      ←
20       nem val calar nem pedir.      ←
  
 Que quer que mi a mim gracido       ←
fosse de quant'hei servido,      ←
(que mi a mim nada nom val)      ←
mia coita viço seria,      ←
 25ca servind'atenderia      ←
gram bem; mais, est'é meu mal:      ←
       contra mia desaventura      ←
       nom val amar nem servir,      ←
       nem val razom nem mesura,      ←
30       nem val calar nem pedir.      ←
  
Porque sol dizer a gente      ←
do que ama lealmente:      ←
"se s'en nom quer enfadar,      ←
na cima gualardom prende",      ←
35am'eu e sirvo por ende;      ←
mais, vedes ond'hei pesar:      ←
       contra mia desaventura      ←
       nom val amar nem servir,      ←
       nem val razom nem mesura,      ←
40       nem val calar nem pedir.      ←
  
Mais pois me Deus deu ventura       ←
d'em tam bom logar servir,      ←
atender quero mesura      ←
ca me nom há de falir.      ←



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Nota geral:

Martim Moxa dirige-se novamente ao Amor, numa bela cantiga que, nem por ser de refrão, é menos artisticamente elaborada. E é isto que lhe diz: embora não desistindo de amar, nem desistindo de tentar obter o seu favor e de agradar à sua senhora, por mais que faça, contra a sua desventura nada lhe vale - nem amar, nem servir, nem razão ou comedimento,nem ficar calado ou pedir.
E ele até se contentaria se, em troca da sua dedicação, a sua senhora se limitasse a aceitá-lo como servidor, como diz na 2ª estrofe. Ou se se mostrasse pelo menos um pouco agradecida, como acrescenta na 3ª, pois, neste caso, poderia ter alguma esperança. E cita a este propósito, na 4ª estrofe, um provérbio antigo, cujo sentido é semelhante ao do atual "quem espera sempre alcança". Nada, mas nada lhe vale.
A cantiga termina, no entanto, com uma finda otimista: já que Deus lhe concedeu amar tão grande e nobre senhora, esperará dela a compaixão que decerto não lhe irá falhar.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 307, B 895, V 480

Cancioneiro da Ajuda - A 307

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 895

Cancioneiro da Vaticana - V 480


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas